sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Caminho do Sal: primeiras impressões

Desde que li pela primeira vez, no site Vá de Bike, a matéria do Enzo Bertolini sobre a recém-criada rota Caminho do Sal, fiquei curioso pra pôr minha bike nessa trilha. Afinal, embora o uso das bicicletas venha se popularizando muito nos últimos anos, ainda são poucas as opções de percursos sinalizados, que possam ser percorridos de maneira auto-guiada - caso, por exemplo, do Caminho da Fé, que percorre o Sul de Minas e o Vale do Paraíba, em São Paulo. Nesse sentido, a iniciativa das prefeituras de São Bernardo, Santo André e Mogi das Cruzes, de oficializar o Caminho do Sal, demarcando-a com placas indicativas, é uma ótima notícia pra tantos caras que, como eu, gostam de pegar uma trilha de final de semana.




Minha oportunidade surgiu numa manhã, quando chamei o amigo Demiz ‘Peixe’ Costa, cara acostumado a fazer trekking na Serra do Mar, para testarmos a trilha recém-criada. Como não dispúnhamos de muito tempo pra fazer o percurso completo, optamos por percorrer apenas os trechos Zanzalá e Carvoeiros, totalizando metade do percurso, iniciando o percurso em Paranapiacaba. Para quem vai de carro ou pick-up (nosso caso), a estratégia se revelou acertada, pois Paranapiacaba dispõe de um estacionamento bem razoável. Paramos a pick up, descemos as bikes, arrumamos tudo e caímos na estrada.




Estacionamento em Paranapiacaba

De início, encontrar o início da rota é um pouco complicado; como se trata de atração recém-criada, nenhum morador soube nos informar a respeito. Mas o instinto de navegação do Peixe e um Google Maps no celular deram conta do recado: basta descer pela ladeira principal da vila, cruzar a ferrovia por uma grande passarela e pegar a segunda rua à esquerda e se encontra a trilha – o nome oficial dessa segunda rua é avenida Schnoor.  Alguns metros após o início da trilha, avistamos a primeira placa “Caminho do Sal”, que reconheci pela foto publicada no Vá de Bike - acima.

O primeiro trecho que percorremos, chamado de Rota dos Carvoeiros (sentido Caminhos do Mar) é bem arborizado, com algumas subidas e bons trechos de descida. O piso é tranquilo, com poucas pedras, quase nada de lama. Depois de cerca de seis quilômetros, cruzamos a linha do trem e ganhamos a rodovia SP 122 (Ribeirão Pires-Paranapiacaba, sentido Ribeirão Pires), num trecho de mais quatro quilômetros em asfalto bem pavimentado e ótimo pra pedalar até a entrada da estrada do Caminho de Zanzalá, logo depois do Clube dos Químicos. Aqui, uma observação: a placa indicativa do Caminho do Sal fica escondida, alguns metros longe da entrada dessa estradinha. Seria importante a organização reposicionar essa placa pra quem vem de Paranapiacaba sentido Caminhos do Mar (nosso caso), de modo que ficasse mais visível. Com a ajuda de dois ciclistas locais, conseguimos localizar a entrada.


Peixe acelera em direção a um 'cardume' de urubus


E os bichos saem em revoada 


O Caminho do Zanzalá é bem mais bonito e interessante do ponto de vista de variações de terreno que o Carvoeiros. São 16 quilômetros com subidas, descidas, lama, passagens com bastante pedregulho (um pouco mais técnicas) e outras planas de terra batida, boas pra pedalar mais forte. Ao longo do caminho, vários pontes sobre córregos de água cristalina que formam poços com profundidade suficiente para um bom mergulho no verão. E excelentes vistas dos morros da serra do Mar. E, no final, poucos quilômetros antes de chegar na estrada Caminhos do Mar, o Sangradouro do Perequê, uma espécie de comporta da represa Billings, que, nesta época, está bem seca. Enfim, cardápio completo para uma boa trilha.

Nessa parte do percurso, as placas indicativas do Caminho do Sal são menos frequentes no Carvoeiros, mas estão posicionadas em locais estratégicos, nas bifurcações e nos cruzamentos. Mas é importante manter a atenção à sinalização para não sair da trilha, especialmente se você estiver pedalando mais rápido ou estiver pela primeira vez no caminho. Há um certo risco de perder a trilha.


Vista da Serra do Mar é um dos atrativos

Com cerca de duas horas de pedal, Peixe e eu chegamos na saída para a estrada dos Caminhos do Mar (final do trecho Zanzalá). Comemos umas castanhas que havíamos levado de lanche, tomamos uma água, e fizemos o percurso de volta para Paranapiacaba, desta vez um pouco mais rápido, em uma hora e meia. Chegando na SP 122, optamos por seguir direto pelo asfalto até Paranaiacaba, num percurso de apenas cinco quilômetros, embora com um pouco mais de subidas – se fôssemos pela terra, seriam 10 quilômetros. Se a opção do ciclista for fazer esse trecho, é importante adotar as recomendações de segurança para quem pedala em estrada de asfalto: andar pelo acostamento, no mesmo sentido da via (nunca na contramão), se manter bem visível - com roupas claras e sinais luminosos -, e ficar próximo de outros ciclistas do grupo.




Como viemos pelo asfalto, ficou mais fácil chegar no estacionamento de Paranapiacaba e pôr as bikes de volta na caçamba da pick up. Ao todo, foram 47,2 quilômetros e um desnível total de cerca de 100 metros, desde a parte mais alta, em Paranapiacaba (850 metros) até a mais baixa, na estrada velha (cerca de 750 metros). Considerando distância, altimetria, acesso às estradas para resgate e tipo de terreno, os trechos do Caminho do Sal testados podem ser indicados para bikers de nível a partir de intermediário ou para novatos com alguma experiência em busca de mais desafio e contato com a natureza.

 Distância e Altimetria


  
Pontos Positivos

Altimetria, nem muito light nem muito pesada, ideal para quem já possui alguma experiência.
Visual na trilha, especialmente no Caminho de Zanzalá.
Poços ao longo do caminho, ótimos pra um banho, no verão.
Sinalização, com placas em todas as bifurcações.
Variedade de terrenos.

Pontos de Melhoria

As placas de identificação são pintadas num tom muito claro, às vezes fica difícil identificar, especialmente nos dias ensolarados.
As placas de identificação estão nos lugares mais estratégicos, as bifurcações. Mas são poucas; por isso, a organização (e os próprios usuários da trilha) deverá ficar atenta para evitar roubos de placas e depredações.
A Placa de identificação da trilha no Caminho de Zanzalá após a SP 122 (para quem vai no sentido Caminho do Mar) está em local de difícil identificação. Um reposicionamento seria bem vindo.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Haka Atibaia: de carona na GoPro

Vídeo que produzi com a GoPro (pra quem não sabe, uma daquelas minicâmeras de ação super-resistentes) de  na quarta e última etapa do Haka Race 2013, dia 05 de outubro em Atibaia-SP. Como em todo trabalho de edição, o desafio foi comprimir uma hora de material bruto em três minutos que resumissem como foi a corrida.

Se você nunca participou de uma corrida de aventura, pegue carona no meu capacete clicando na foto abaixo e confira o vídeo. 







Uma errata: como já disse anteriormente, a data correta da prova é 5 de outubro, não 13 de outubro, como aparece no vídeo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Pirâmide de papel



Como a vida não são só trilhas e bike, vou falar um pouco de economia. Dia desses, recebi e-mail de uma amiga convidando para participar de um tipo de aplicação chamado de ‘investimento em rede’. Animada, ela dizia que o produto valia “super a pena” e que o namorado também estava participando do mesmo investimento.

Em linhas gerais, a operação consiste, numa ponta, em depositar R$ 2 na conta de seis pessoas enumeradas numa lista (e cujos dados bancários constam no e-mail). Na outra ponta da operação, o aplicador deve convencer o maior número de pessoas a depositar R$ 2 em sua conta – a sugestão é repassar o e-mail para 250 pessoas, o que, com uma taxa de sucesso de 3% (a média, segundo os gestores) dá sete pessoas depositando R$ 2 cada, ou R$ 14, inicialmente. Como o pressuposto é o de que essas sete pessoas enviarão, cada uma, mais 250 e-mails, teremos 1750 e-mails enviados. Considerando-se o mesmo índice de sucesso de 3% de adesão, chegaremos a 53 e-mails ou R$ 106, uma rentabilidade de 784% sobre os R$ 12 investidos inicialmente. Mas não para por aí. Como cada uma dessas pessoas repassará o e-mail, o ciclo continua e o investidor continua ganhando. Ao todo, pode-se, segundo o e-mail, atingir 164 mil pessoas, amealhando R$ 328 mil, o suficiente para comprar um apartamento. Tudo isso com apenas R$ 2 de investimento inicial. Risco? Baixíssimo, já que, segundo o e-mail, uma famosa publicação econômica (que não mencionarei aqui) “não encontrou falhas neste programa”.

Bom demais, não? Não! A maioria dos leitores já deve ter percebido que se trata do velho golpe da pirâmide de dinheiro. O histórico desse tipo de maracutaia mostra que, em algum momento, a corrente se quebra: uma parte dos destinatários não entra na pirâmide, que começa a ruir de baixo para cima, deixando na mão os participantes intermediários. Quando isso ocorre, quem está no topo da pirâmide (os golpistas) já teve um bom retorno com a pirâmide. Para esses, sim, o ‘investimento’ vale a pena.



Vale lembrar que quem entra nesse tipo de operação não apenas corre o risco de perder dinheiro, como incorre em crime contra a economia popular, definido como “obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações ou processos fraudulentos” (Lei 1.521/51).

Há algumas orientações básicas a serem seguidas antes de entrar numa aventura como essas: checar se o gestor tem registro nos órgãos competentes, se o investimento está cadastrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e se a empresa que oferece o produto tem sede e há quanto tempo atua, entre outros. Mas, antes de ir à CVM ou checar sede, fiz uma avaliação bem mais rasteira: chequei se a tal famosa publicação econômica “não encontrou falhas neste programa”, como foi dito. É evidente que a tal matéria não existe; pelo contrário, a publicação menciona a pirâmide de dinheiro entre os golpes financeiros que mais enganam as pessoas.

Tentei, em vão, alertar minha amiga de que se tratava de um golpe, enviando a ela a matéria e outras. Mas, em períodos como o atual, em que as aplicações em renda fixa já não proporcionam ganhos vistosos e em que a Bolsa anda de lado, é comum as pessoas buscarem soluções mágicas. Não se iluda. Como diria uma expressão em inglês, easy come, easy go - o que vem fácil vai fácil. Não entre de gaiato nessa rede.

 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Cycling in the rain

Escrevi há um tempo um post com dicas sobre pedal em dias frios. Agora que o inverno vai passando e o verão se aproxima, quem pedala começa a enfrentar um desafio de outra ordem: a chuva, que em setembro volta a dar as caras.

Em termos de incômodo para o ciclista, os dias chuvosos, desculpem o trocadilho, ganham de lavada dos dias frios. Não bastasse a molhadeira que um simples passeio de um ou dois quilômetros produz sob essas condições, ainda é preciso ficar muito atento aos riscos do trânsito, por dois motivos: (1) as ruas e avenidas ficam mais escorregadias, aumentando o perigo de acidentes e (2) devido aos congestionamentos que inevitavelmente vêm junto com a chuva, quem está atrás do volante de um veículo geralmente fica mais irritado e, portanto, propenso a tomar atitudes imprudentes.

Pedalar na chuva, portanto, não é para amadores. Se você está começando a usar a bike como meio de transporte, deixe-a em casa nos dias de tempestade. Agora, se já tem alguma experiência como ciclista urbano, não tenha medo de se molhar. A seguir, uma lista de ‘equipos’ fundamentais pra encarar a chuva. A regra básica é: por mais que você se molhe por fora, mantenha o corpo seco. Ou, como diz o site americano Active, “keep your core warm” – mantenha o que é importante, as costas e a região peitoral, aquecido.

1) Calça de ciclismo

Sim, é a mesma que indiquei para o frio – e com as mesmas observações a respeito de não ficar sexy. No caso da chuva, o objetivo também é manter seu corpo aquecido, função que cumprem bem.

2) Jaqueta impermeável

Mais essencial que o item anterior pra manter seu corpo seco e aquecido. Afinal, o contato de roupas molhadas pela chuva com o corpo pode até levar a uma hipotermia, principalmente nestes dias de primavera, quando a chuva ainda vem junto com o frio. Como as jaquetas impermeáveis propriamente ditas costumam ser caras (cerca de R$ 400) e, convenhamos, dá dó pôr uma North Face ou Thimberland desse preço num passeio de bike, a opção são as corta-vento, que dão conta do recado. Esta, da Kailash, indicada no post sobre frio, vai bem e custa R$ 199 na Mundo Terra. 



3) Capa de Mochila/Alforge

Cada ciclista tem uma opinião, mas todos concordam que é importante proteger suas roupas, livros, celular, etc., da chuva. Eu prefiro a capa de mochila, por ser mais prática e não obrigar a grandes malabarismos e adaptações da bicicleta. Compacta, durante os períodos de seca, até esqueço que ela está lá num cantinho da mochila. Mas se o tempo fecha de uma hora pra outra, garante a integridade dos meus pertences. Preço: R$ 50. Já os alforges são mais recomendados pra quem faz cicloturismo, mas podem ser usados numa boa no trânsito urbano. Em geral, são bem mais resistentes ao desgaste e à água que as capas de mochila - chegam a funcionar como saco estanque, mantendo tudo o que está lá dentro absolutamente seco. Por isso, mesmo, são mais caros. Preço do modelo abaixo: R$ 468. 


4) Luzes de orientação

Mantenha-se visível mesmo durante o dia, usando os mesmos equipamentos que utilizaria à noite, como luzes de referencia e equipamentos refletivos. Bastante popular, esta lanterna pode ser usada na traseira ou na dianteira da magrela e custa só R$ 25. 



5) Óculos: se você usa de grau, já está garantido. Se não usa, compre um especifico pra ciclistas. São baratos (os mais em conta custam R$ 30) e protegem os olhos dos respingos de água que vem dos carros e do asfalto. 


Dicas:

Leve um kit extra de roupas na mochila, se tiver espaço

Considerando que estamos falando de bike como meio de transporte, é possível que você não tenha onde pôr suas roupas pra secar. Tendo esse back up, você pode não será obrigado a vestir roupas molhadas no final do expediente.

Atenção máxima

As ruas ficam mais escorregadias e os motoristas, mais estressados por causa dos congestionamentos. Ingredientes que compõem uma mistura explosiva.

Divirta-se! 

Não é porque você vai estar mais atento ao trânsito que precisa se aborrecer. Volta e meia ouço alguém falar com nostalgia do tempo em que podia brincar na chuva, durante a infância. Volte a ser criança e aproveite pra sentir o frio das gotas contra seu rosto e o cheiro da chuva caindo.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

20 de agosto

Li outro dia no blog do Felipe Machado que a gente escolhe uma determinada idade e fica com ela. Seria essa a explicação para a expressão “não me sinto com 50 ou 60 anos”.  Mas, por mais que demorem pra aparecer, um hora os sinais ficam visíveis e, por mais que a cabeça não se dê conta, o corpo nos faz cair na real. Foi assim que dia desses, olhando no espelho, percebi que pela primeira vez conseguia enxergar minha calvície de frente, olhando na horizontal. Até então a ‘careca piscina’ (apelido dado para aquele estado em que a cabeça está cheia, mas o fundo é visível) só ficava aparente quando vista de cima, em alguma filmagem ou no cabeleireiro, quando o sujeito mostra como ficou a obra por todos os ângulos.



Mas naquele dia o espelho foi implacável, jogando na minha cara - ou na minha careca - a prova cabal da inexorável passagem do tempo. Se é verdade que a gente escolhe a idade, minha cabeça deve ter parado lá pelos 20 e poucos. É assim que me sinto. Mas hoje chego aos 38 anos.

O tempo passa e, de um dia pro outro, você faz 30 anos e vira um adulto, quase sempre diferente do que você imaginava ser. Um dia em 1985 uma professora me pediu para escrever como eu estaria no ano 2000 e eu previ que teria dois filhos e seria físico igual meu pai.  Algum ajuste nessa cápsula do tempo deu errado e tudo saiu diferente: fiz faculdade de Direito, fui parar quase que por acidente na de Jornalismo e, por conta de uma série de pequenos episódios em que as coisas precisariam de muito pouco pra mudar de rumo (e se tal detalhe fosse diferente?), me tornei repórter de um dos maiores jornais desse País, experiência que, por sua vez, gerou uma sequencia de eventos que definiu tudo o que aconteceu até hoje em minha vida profissional. 

Alguns amigos já me disseram que fiz coisas que mudariam suas vidas, como saltar de paraquedas, escalar uma montanha, correr uma maratona ou fazer uma tatuagem. Esse feitos se prestam a uma infinidade de metáforas sobre riscos, conquistas e perseverança. Mas confesso que nenhum deles mudou minha vida. Simplesmente fiz e continuarei fazendo porque é o que me faz sentir vivo. Gosto de me sentir pequeno diante da imensidão das montanhas e dos lagos; do frio na espinha diante de um abismo e de imaginar que quilômetros esperam ser percorridos de bike, a pé ou correndo.

Há alguns anos, prometi pra mim mesmo que não casaria. Estava feliz sendo solteiro e pronto. Mas havia um Pico dos Marins no meu caminho e lá, conheci uma garota que também já tinha escalado montanhas (mais altas que as que eu escalei), saltado de paraquedas e que faria uma tatuagem um mês depois de eu ter feito a minha. Casei com 37 anos. Isso, sim, mudou minha vida.

Nesta idade, não sabemos o que a vida ainda nos reserva, mas os não-caminhos, esses já estão bem claros, escreveu um amigo. Aos 38 anos, sei que não vou ser astro do rock, ídolo do futebol ou piloto de caça. Também já sei que não serei físico, como seu Dirceu.

As coisas dificilmente saem como planejamos, mas se tem algo que aprendi é não brigar com a passagem do tempo e com as surpresas que a vida nos reserva. Se eu fosse físico e tivesse dois filhos como previ no hoje distante ano de 1985, talvez não tivesse tempo nem interesse de escrever este blog. 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Freezing running

São 5h40 da manhã. Lá do banheiro, o celular começa a gritar. Ainda atordoado pelo sono, levanto, cruzo o corredor e, antes que a Rê acorde com a barulheira, trato de desliga-lo. Faz parte da estratégia deixar o celular-despertador bem longe do alcance. A esta hora e com este frio, deixa-lo ao lado da cama significaria abortar a missão. Resignado, acendo as luzes do apê e preparo um café bem forte.

Levantar pra correr nessas circunstâncias não deve ser, nem para o mais disciplinado dos atletas, algo agradável; praguejo contra mim mesmo, amaldiçoando o momento em que me inscrevi pra correr a meia maratona do Rio e, uma semana depois, o Haka Race. Isso implicará achar uma brecha na agenda pra treinar, nem que seja de madrugada. Passo pela portaria do prédio antes de o sol nascer e o porteiro informa que a temperatura é de 10 graus.

Vou andando em direção ao Parque da Água Branca pela avenida que, já naquele horário, começa a ficar movimentada, com gente indo pro trabalho encapotada com blusas, cachecóis e tudo mais. Muitos fumantes.Se pra mim, madrugar naquele frio é quase facultativo, pra eles é obrigatório. “O que eu tenho na cabeça, se poderia estar numa boa dormindo?”, me pergunto mentalmente.


Uma névoa congelante envolve as árvores do parque. As primeiras passadas saem meio travadas pelo frio, e minha espiração sai como fumaça por causa do frio. E, como se estivesse condicionado por já ter feito aquele tipo de treino uma centena de vezes, inicio a corrida no percurso de sempre: uma reta longa ao lado das baias da exposição, com a Matarazzo à direta, uma subida suave ao lado da entrada da rua Germaine Burchard, seguida por uma subida mais forte. Na sequencia, uma reta plana, paralela à rua Turiaçú, na “parte alta” do parque, pra, finalmente, pegar a descida que ladeia um bosque com arvores nativas da Mata Atlântica e que termina na entrada principal do parque. O percurso todo dá uns 1.300 metros. Relativamente curto pra quem corre, mas com muitas árvores e trilhas estreitas. O ambiente me faz esquecer de que se estou quase no centro de São Paulo. A enorme quantidade de galinhas – e galos, que, ao nascer do dia, duelam pela supremacia daquele terreiro gigante – completam o clima bucólico do lugar.




A esta altura, suado pela corrida, já tirei o gorro de lã e a blusa de fleece com que comecei o treino; como se costuma dizer, correr esquenta de dentro pra fora.

Por fim, termino minhas três voltas (seriam quatro) constatando que ainda falta muito pra eu chegar na minha melhor forma física. Alongo um pouco e volto pra casa. Neste momento o dia já nasceu e o movimento na rua aumentou consideravelmente.

Volto meio decepcionado por sentir que ainda tenho de melhorar bastante e que me restam somente duas semanas até o dia da meia maratona. Mas a corrida me dá um ânimo pra encarar o dia que dificilmente teria se ficasse enfurnado entre os cobertores.

O tempo que se gasta correndo nunca é perdido. Fica uma sensação de que, por alguns instantes, não se está em São Paulo, mas numa trilha nos Alpes ou na Serra da Mantinheira, selvagem e silenciosa. Há algo de mágico em correr nas madrugadas frias.   

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Freezing bike

Não dá pra negar: nestes dias de frio, dá uma certa preguiça danada de cair da cama e ir pro trabalho de bike. Não à toa, o numero de ciclistas nas ruas diminui visivelmente quando a temperatura cai. Se o frio vier junto com uma chuva, pior. Talvez por não sermos tão acostumados com o frio, cada vez que a temperatura desce para uns 15 graus tratamos de esconder nossas bikes bem no fundo da garagem.

Mas, se por aqui, qualquer ventinho mais gelado espanta a maioria dos ciclistas das ruas, nos países do hemisfério norte, especialmente os da Europa, onde as bicicletas são uma tradição e o inverno costuma ser bem mais rigoroso que por aqui, pedalar a baixas temperaturas não costuma ser um problema. Deem uma olhada no vídeo abaixo, que mostra um dia de inverno em Utrecht, na Holanda.

  
O autor do vídeo, o blog Bicycle Dutch, observa que “embora haja menos ciclistas nas ruas por causa da neve, mesmo nessas condições, muitos holandeses ainda preferem continuar usando suas bicicletas. Se o uso da bike é para questões de trabalho, a tendência é de que você fique menos propenso a mudar seu comportamento por causa do clima.” Ou seja, há, sim, alguns que deixam de pedalar, mas a maioria não se importa com a neve.

Um caso curioso é o da cidade italiana de Bologna, onde a prefeitura proibiu o uso das bicicletas em caso de neve, mas foi obrigada a voltar atrás diante de uma forte mobilização da comunidade, que exigiu a liberação das magrelas.

Mas, se, mesmo assim, você ainda não se convenceu de que é viável pedalar no frio, vou apresentar, a seguir, uma lista de quatro equipamentos que vão ajuda-lo a enfrentar o inverno numa boa. Afinal, s
e até com neve os gringos conseguem, nós também podemos tirar de letra. 

1) Ecohead/Buff – São as principais marcas de um produto que é a versão moderna dos tradicionais gorros de lã, mas feitos em tecido comum e em formato tubular. Ajudam bastante, pois servem como gorro (debaixo do capacete) e cachecol. Use pra proteger a cabeça, as orelhas - que gelam com frio - o pescoço e o que mais for possível. As da Ecohead, nacionais, custam em torno de R$ 30. 




3) Calça de ciclismo – Ok, não é a última palavra em estilo. Pelo contrário, se você é homem, vai se tornar alvo de piadas entre seus amigos se for visto usando uma dessas. E sua namorada certamente não vai te achar sexy. Mas quem já usou sabe como são uteis. Além de te manter aquecido nos dias frios, o formato faz com que não enrosquem na coroa da bike, detonando a calça. Vá por mim: a funcionalidade compensa as gozações. 





Vantagens de pedalar no frio

  • Qualquer atividade física praticada no inverno produz menos suor. Se você costuma ir trabalhar de bike, chegará mais ‘inteiro’ e mais apresentável no escritório. 
  • A maior quantidade de roupas diminui o risco de escoriações em caso de queda.

Desvantagens de pedalar no frio
  • Necessidade de levar uma quantidade maior de equipamentos pra se proteger das baixas temperaturas.